terça-feira, 4 de novembro de 2008

Acho que as vezes gostaria de ser do tipo que não responde, que não incomoda.

Das que não brigam e nem discordam. Aquelas de quem todos gostam e ninguém reclama, porque nunca grosseira, nunca impulsiva. Ela mantém o controle.
Ela chora porque sofre, e se esconde ao chorar.

Quando sozinha, chora de raiva. Suas frustrações vem embutidas num frasco compota que se compra quando aos trinta tem que se casar:
Em bodas de ouro com toda a alegria!

Agora casada, não deve gritar nem se deixar exaltar. Ajuda seus filhos nos estudos.


Sem muito barulho põe a mesa do jantar.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Pitanga

O gosto doceazedo da pitanga maldita. Delícia da infância, impressa em mim.
Sabor, aroma, frescor e os espinhos no pé; o mato rasteiro e a sacola de plástico.
Quem pega mais!? Muito mosquito!
Cheiro de mar, frio da lama no pé. É lodo, é barro. É mangue.
Tem bicho,e tem pitanga, mas essa não.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Ilhada
Envolta em um mar de coisas e de gente; de situações e conceitos. Pressionada por nada. Talvez coisas. Um mar tão denso e tão vazio.
Incrível como me apego a mais e mais objetos abstratos, produtos de minha vontade. Que consumo, que produzo. Confio minha vida a pessoas que na verdade nem estão ali. Recebo em minha casa um amigo que não posso tocar, apenas sei de sua presença, é virtual.
Conversamos, não nos olhamos. Eventualmente nos vemos. Navegamos por vias digitais, nos comunicamos por transmissão de algum tipo de energia, ou onda.
Há uma nova caixa mágica onde talvez conheça alguém, compre um objeto. Posso fazer e conhecer inúmeras coisas.
Onde fica o tempo pra vida sentida mesmo?Quando é que se pode tocar? Ou só sentir?
É, talvez fique mais fácil assim. O ser idealizado, não é? Parte o que é, parte o que quero que seja. Parte um pouco do que sou e parte o que imagina que eu seja. Cerejas.
De qualquer maneira, quando nos vemos não nos anestesiamos? Com vícios ou em vícios? Acho que demoramos muito em abrir as portas, pro que realmente somos.
Há muitas voltas.
Já me basta a pele que tenho, o corpo em que nasci.
Sempre o vício das vestimentas. cada vez mais metida em nomes e roupas, telas e títulos.

domingo, 4 de maio de 2008

Terror e Pânico: Solteira aos 37.

Como homem, quem sabe muitas vantagens. Talvez maduro, uma vida estável, ele trabalhou. E se teve três filhos, estão bem educados, três belas gozadas, agora com a ex.
A mulher de 37, solteira, o corpo de três filhos, buscando o seguro, um provedor, seu porto. Ele busca o corpo de 27, de 19; por isso o desespero! Case-se antes dos 30! Quem sabe desde o colégio, na faculdade! O Amor da sua vida!
O amor da vida desse homem: Viver! Comer a vida e todas elas. As que todavia não se assustaram, nem se apavoram com a solidão. Elas que não têm filhos e na verdade não os querem ainda.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Quais são as mãos que acariciam o corpo,
Quando este sofre as dores de um amor bruto?
E chega a adoecer de amor?
Porque o corpo chora.
O corpo dança a música da alma.
E quando canta,
Canta o que toca a alma,
E quando sente, vibra, e sua, e sangra
O que vem da alma.
Porque só, o corpo não grita.
Só não sente.
Por que só, não ama.

terça-feira, 1 de abril de 2008

É frio
É frio como orvalho.
Apunhala o âmago do estomago.
É latente! É quente!
É sofrido... O que é? Existe motivo?
Tamanha insuportabilidade de tanta impotência
É devastador, covarde, austero... Quieto
O apego da ilusão vã da posse,
Uma sina geral, universal.
Que quanto mais se aventura a refletir
Menos respostas escoam
A angustia de não saber razões distancia,
Em casa suspiro, do sentimento
e a dor é latente, quente.
Apunhala o âmago do estomago.
Berço
Continuo. Permaneço
O caos do sistema,
Um triste solitário cidadão brasileiro,
Felicidade é meu oficio, trabalho o dia inteiro.
Muitos caminham, reconheço poucos.
Seus passos divulgam seus semblantes incomuns
É fácil etiquetá-los, todos com seus códigos de barra, arrastam o cotidiano.
O que buscam eles?
Meros mortais. Vivem...Vivem? Acham que vivem.
Tão apressados se tornam funcionais ao tempo.
Funcionais a matéria, escravos da miséria.
Porém nem todo caminho é enfadonho,
Poucas são as pedras portuguesas soltas.
Presencio também
Samba, cor. Ritmo, arte, amor.
Pintura, fulgura!
Um idioma na baixada, na favela, na zona sul.
Um passo típico, um rebolado pessoal.
Mais uma mistura cultural, mistura racial.
O berço da diversidade é também meu berço
Minha casa, meu lar,
Amparo do mendigo, a cidade parece me abraçar.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Pulsar
Pulso. Pelo simples impulso me movo, de novo. Sinto que algo em mim se move, vive. É como se de fato soubesse, e sei, que meu corpo em coro com o mundo canta, e quer movimento, quer sentir o vento. Sinto a vida, seu forte pulsar. O sangue que corre não pára, e no pulso o sinto. Dentro de mim algo existe, e nasce e morre a cada seguido segundo, não pára, e sinto; que em meio a tantas e tantas coisas a que nos propomos ao despertar de cada dia, estão vontades sinceras e anseios do coração, este que pulsa, e luta só, pela existência, ou pela sobrevida nas batalhas que se travam sempre, e novamente iguais, eternas em nós, e no pó do mundo. As freqüentes dúvidas e os questionamentos humanos de novo pulsam, e se fazem existir, já que sem dúvidas ou incertezas não há impulsos ou respostas.

segunda-feira, 24 de março de 2008

domingo, 23 de março de 2008

Pensa, lê, escreve, pensa, lê, escreve....

E fala, e fala, e fala...

Se a gente não pensasse tanto pra escrever....

ou pensasse um pouco mais antes de falar...

A escrita como um parto, e a fala como água, que escorre sem controle...

No fim não se sabe se as piores coisas são as escritas com pudor, ou aquelas que escapam de bocas vazias

segunda-feira, 3 de março de 2008

Rio
Como pode ser tão quente?
Tudo que fazemos só piora a situação.
Não se pode definir o que acontece. Toda a luz e todo o calor, intensos como nunca.
É verão, e Rio.
Da sentença que se anuncia; severa e discreta, sem barreiras.
Talvez fosse melhor viver a escrita de coisas não profanas, tão humanas.
O que eu profano?
Rio.
Do que acontece, ou do que não; tudo passa. E aqui tudo se passa.
Chorar não me levaria a nada não é mesmo?
Acontece que senti.
Não pude evitar. Nem sequer procurei esse sentimento em mim.
Fui invadida como quem tem sua casa tomada pelo fogo. Tão rápido, e tão intenso, que nem pensar, ou tentar entender.

Assim como veio, se foi; como o fogo se vai quando já está tudo em cinzas.
O pó escuro que toma a casa, não pode esconder as brasas que ainda vivem, e o que resta dos objetos que se extinguem por meio dessa aventura dão, neste exato momento, seu último suspiro.
Onde estão os vícios?
Adoeci. Tento parar.
Agora, em casa, posso me soltar, e prender os cabelos. Ninguém me vê, não preciso manter nada. Nenhuma aparência ou penteado. Nada.
Um monte de seres humanos, que querem ser alguma coisa. Já são seres oras. O que lhes falta? O que nos falta?
É como se por algum motivo tivesse eu que ser algo, não desejar algo. Tento. Finjo. Não é isso? O que diz o protocolo, ou o contrato que assinei ao nascer? Sem ler! Eu nem sabia! Foi alguém que assinou por mim, que escreveu meu nome ali, e que eu desconhecia. Ensinou-me a ser assim, ou pelo menos parte do que é de mim.
Não quero mais rimas. Já ouvi muito, e falei demais, vi coisas, e senti.
Longe de mim qualquer sentimento agora! Por favor.
Quem será que pode me dar isso, o nada? Queria o vazio, a indiferença pra te presentear. Mas não tenho.
Quando te vejo, te sinto, sou tomada por isso.
E finjo, que não. De novo, não é o que diz o velho protocolo? O contrato, que assinamos ao escolher?
Escolher qualquer coisa. E você bem sabe que essas são as piores, as coisas quaisquer. Por que não são tão nada, e nem são tudo. Não estão bem definidas e tampouco se desfazem assim, sem solventes.
São Coisas, as causas quaisquer por que você luta, ou por que sonha, são enfim onde se escondem nossos vícios.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Who's Blue Now?
(Paul Mertz)

Who's blue now?
You ought to know;
You made me go.
Who's blue now?
You ought to say,
You had your way.
You drifted far apart from me;
You didn't care;
You took the very heart from me,
You didn't spare me.
Who's saying,
"Oh, what a break! What a mistake!"
Who's paying With many a heartache?
Hate you, I don't,
Love you I won't,
Now that I'm through,
Who's blue now?
Nobody but you!

domingo, 3 de fevereiro de 2008


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

NOVO.
Como se fizesse alguma diferença, ela tentou não se deixar levar. É claro, não conseguiu. Assim como claros são os dias de sol que seguem dias chuvosos, era claro que ela não conseguiria. A embriaguez daquela noite a conduzia em um mar de agitadas correntezas... Sentia ventos desconhecidos, mas se sentia forte e acreditava velejar precisa como nunca. Nada a impediria, precisava daquilo. Com um hedonismo sutil e um egoísmo afiado ela percorria a noite navegando em sí.
Palavras sem valor e olhares curiosos. Ela se jogava, e caía, não tinha medo. Lastimava-se, queixava-se; era o calor que tomava seu corpo quente. Preferiu se poupar, retirou se a tranquilidade de seu sono. Deixou-se levar pelos sonhos; sem controle que são, são de fato, indefesos.
Na manhã seguinte, não pôde se lembrar do piloto que havia conduzido sua navetáxi a sua casa, nem tampouco o momento feliz em que entrara em seu doce refúgio, mas horas depois, apenas despertou, sã e salva em sua calma cama.
Salva? Creio que não. Não poderia salvar-se de sí mesma, e nem das lembranças que chegavam ao porto ao longo do dia.
Perdida em fatos que se viam confusos e difusos em névoas do esquecimento, esperava que o dia corresse, sem altas expectativas. Talvez curiosa. Sim. Ela estava. Queria de fato enxergar os peixes e criaturas que havia despertado na noite anterior.
Em sua nova rota, sentia-se inerte aos movimentos de seu barco, o dia lhe parecia sereno e sem vida. Correu como corre qualquer outro, sem tempestades e sem canto de mágicas sereias. Mas é claro, com a noite que chega, a maresia a banha num novo perfume, e de fato em outras cores, novas, e repetidas, possível?
E não tem a cada mordida um novo sabor as maçãs? Novidades são antigas como o tempo, e ficam antigas com o tempo, ainda assim, pra nós, seres de curta memória, são novas, de tempos em tempos.
Sabia ela que nada seria tão diferente se comparado a outras tantas noites de partidas sem rumo, porém, tinha que desbravar aquele já percorrido caminho. Recebera uma novidade já antiga pelo seu comunicador celular, e se propusera então a descobrir aquele corpo mais uma vez.
Tudo como ela já havia feito, e de novo nada, mas ela assim o sentia: novo. Era nova a circunstância não era?Então por que se afogar na velha mesmisse, se tudo pode ser diferente a cada nova tentativa? Nada será "de novo". E então não se trata disso,a vida? Assim como o dia, que traz o mesmo Sol, mas é novo a cada dia, será aquele oceano um novo, a cada
nova partida.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008



Escasso
Embriagados estão pelo não beber, é a sede, a angústia.
É fome, a ausência de amor.
Almas que vagam por corpos vazios, e nada buscam, pois nada conhecem.
Ignoram a vida e a luz. Não sentem, não tocam e nem se deixam tocar, pois não conhecem o toque, não escutam a música.
Seus ouvidos não enxergam e seus olhos não sentem. Seus lábios nunca conheceram a suave canção das estrelas em noite de lua.
O mutismo provocado pelo desconhecido é algo que nasce dentro de cada um.
Não se canta mais, nem se escrevem cartas de amor.
Embriagados por um vinho que já não existe, sentem fome de um alimento que não pode ser consumido.
Acabaram-se as maçãs.
Há portas fechadas, alguns caminhos se apagaram.
Alguém tem de despertar! É preciso que alguém se levante dessa grande cama do descaso. Do escasso.